segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

cinco

despedi-me da noite, do passado, das memórias e tentei andar para sul. para o lugar onde pernoitam as verdades e onde todos os sonhos são esquecidos.
tentei caminhar em frente. tentei me sentir eu mesma. tentei manter um único sentido e permanecer assim, intacta e sóbria mas só te vi a ti pelo meio da penumbra. tropecei em meus pés e tentei fugir do teu abraço quente. corri para norte , onde o verde preenchia os meus olhos e me arrefecia o corpo. a tua sombra tentou agarrar as minhas pernas, mas eu corri mais depressa e mais depressa corri, quando te senti cansada atrás do pó que deixava para trás.
vi-me de súbito desperta e reconheci todos os meus músculos latejarem em ligeiro sofrimento. caminhei lado a lado com a dor que se alojava a cada passo com que me movia. andei para o norte e para o verde das árvores. senti a cada passo a liberdade. senti nos pés , uma nova vontade de vislumbrar o mundo.
levantei a cabeça e vi o azul amarelecido do fim do dia. o mar ao fundo murmurava a saudade e eu senti-me viva de novo.
levantei de novo os olhos e vi-a pela primeira vez. sorri para o mar que escorria dos ombros e para a areia fina que lhe banhava os cabelos. sorri, porque não a vi com os olhos, mas sim com o meu próprio sorriso.

sorri , porque sorrir é a única maneira de a olhar com a alma.

sábado, 5 de novembro de 2011

vinte e cinco

é hoje

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

tu continuas aqui. dirás: morri. prontamente te direi : toco a tua alma a cada minuto contigo..

lembras-te do cheiro da água morna de março, a jorrar da fonte esverdeada onde afundavas os teus pensamentos, onde afundavas os teus pensamentos nos meus?

lembras-te de andarmos perdidas pelo meio das ruas há muito conhecidas, e de não reconhecer-mos luz entre as nossas sombras? eu lembro-me da verdade. lembro-me da verdade que vi. e a verdade veio de ti e só de ti.

murmuras: sem mim nada muda, sem mim nada muda. tudo permanece igual, é indiferente. tudo me é já tão indiferente. eu sinto as tuas palavras mas não as ouço, já só me lembro das palavras nos teus olhos, olhos que me gritam loucura. e já só vejo loucura, já só vejo loucura da felicidade temporária que me trazias aos sentidos.

eu nunca fui feliz. sei-o também, nunca foste feliz. em momentos, confesso porém, julguei o ser. em momentos pensei que também o eras. não, nunca fomos. nós sempre fomos menos que o nada que nos compunha.


sorrio. sorrio ao pensar em ti. por ti nada sinto. por ti o dia que madrugava feliz em mim, já não é dia. só há noite. uma ligeira noite azul em nós. nada sinto por ninguém. nada sinto por mim.

e por ti, a expressão é parca para negar tudo aquilo que escondo sentir. sentir por ti.



o vazio, o vazio, o vazio, o vazio, o vazio.
tudo se repete.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

são tão novas. ai tão novas
que os pedaços de tecido que carregam sobre o corpo
lhes rodam sobre a pele e se rasgam aos poucos.
são tão novas. ai tão novas
e já carregam olhos escuros de negro cansaço
fazendo vénias discretas ao olhar de quem passa
são tão novas. ai tão novas
e já fornicam pelos cantos matando o cio
a cães aluados que lhes tiram a vida a cada segundo
a cada segundo orgásmico que com elas passam.
vi-a
eu via -a passando de arrasto pela estação dos comboios
reconheci
eu reconhecia-a pela sombra , pela sombra do seu ventre cheio
eu vi
os abortos sucessivos e os passos rompendo cordões umbilicais e vida e mais vida
eu vi
o sorriso sufocado e a esperança
nelas vejo sempre a esperança
a esperança que não há em mim.

reconheci-a mas, os seus olhos não vem mais ninguém.
só a verdade nos seus movimentos vislumbra a cor do dia.
sangra
sangra por entre as pernas
mas ela, não sente, já não sente nada.

a minha alma divide-se assim que vejo de longe o fumo do cinzento da cidade.
o comboio parte para longe
e ela sentada espera a saudade
espera a saudade que já não sabe sentir.

domingo, 16 de outubro de 2011

tudo muito muito verde

às vezes grito sozinha. se grito sozinha no meio do verde, das árvores verdes, do dia verde, sei que apesar de alto gritar, nunca ninguém me há de ouvir. ninguém ouve o silêncio. as pessoas estão distraidas , tão distraidas com os seus próprios ecos que se recusam a ouvir o meu grito.

o meu grito.

é só dor no meu grito.

o meu grito.

é só confusão no meu grito.

aqui, só o verde ouve o latejar das minhas cordas vocais. perco-me nas cores, perco -me na cor, ouço o som do meu grito na tua cor. verde, verde palpitante, vejo o verde em ondas semi circulares. desapareço. transformo-me no som. já não sou eu. agora sou apenas o grito, o grito que trespaça os teus ouvidos. eu sei e entendo. ouves e entendes também. o meu grito é a tua dor também. o meu grito é o teu eco. tentas continuar mas agora é impossivel conter o teu grito também.

gritas. da tua boca já só sai silêncio.

choras. olhas para mim. o silêncio entoa no teu grito. as tuas lágrimas amor, as tuas lágrimas são verdes como o meu abismo.

sábado, 1 de outubro de 2011

marlboro 1.0

a cura está em mim e só em mim. fumo um cigarro e parto no fumo também. a cura está no sopro também. a solidão fortalece e os cigarros continuam imortais mas tu partis-te e a tua onda de vapor não passa mais de mera recordação feliz. a cura está no adeus. a cura está no adeus.

hoje deixo o meu coração para trás.
hoje deixo o teu amor para trás.
hoje deixo o teu fumo para trás.

tudo se repete, até a minha felicidade.

domingo, 18 de setembro de 2011

a morte

mata-me de um sopro, mas mata-me.

mata-me, até não ouvir mais, do mundo preciso apenas de um final, nada mais do que isso.

insistes e dizes: vive. eu não quero , não posso, e não quero, e de novo te digo: mata-me. cruzas o teu punhal sobre a minha face, mas recuas, a medo e com medo me dizes: vive.

eu perdoo-te, tudo eu consigo por fim perdoar, desde que o teu veneno me corrompa por fim. eu há muito deixei de viver, há muito deixei de te ouvir dizer : vive.

por fim, das tuas lágrimas vislumbro a minha e única resolução. se é de morrer que vivo, mais vale desaparecer.

eu morri mas continuas a caminhar sobre a minha pele, a minha pele tão gasta das memórias, dos dias gastos a viver na sombra e nos buracos, sem conhecer manhã ou luz na alma.

eu morri, e por último te deixo , o meu eco:

"em vão, te prometo meu amor, hei-de sempre viver no silêncio das tuas palavras."

Mudei o url do blog

Nada mais a dizer

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

hoje lembrei-me de quanto posso ainda odiar.

de quanto te posso ainda odiar.

e pensar que um dia foste tudo.

agora já não és mais que um dia.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

se a poesia é a casa
eu quero ser o fantasma
que te persegue em dias
de maior calor

sente, sente meu amor
o fervor
com que a saudade
me faz desejar até ao mais infimo do teu corpo
pedaço divino
que me entregas quando faltam as palavras, quando faltam os beijos, quando falta tudo menos o desejo
pois esse meu amor é imortal
infernal
como o teu sangue corrompido
despido de noite
e vazio, vazio de pudores de menina de liceu

filho da puta de breu
da noite que já nem os olhos enxergo

se sou poeta é para bramir aos céus que te amo
femea fatal impura
desde a cama
até à pedra dura
do chão
onde gemes segredos
segundo perceitos que tu própria inventas ao meu ouvido

dizes: é para ti, para ti que grito poeta

se na amargura confiasse em ti

certamente não seriamos mais corpos mas sentidos.

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"Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
"

domingo, 4 de setembro de 2011

Fogo

eu tenho força, eu sou a força, a tua força, a dor que trazes no peito. nada mais temo ser, do que fogo para encher todos os teus vazios de força.

nada mais, nada mais sou do que fogo, e se a vida fosse toda a tua água, de certo não mais eu existiria.

eu luto . eu tento lutar. em vão luto, e nada muda. porque no fundo eu sou apenas fumo. apenas cinza, besta vulcanica adormecida.

serei fogo quando atingir bem ao longe a tua calma.

serei fogo quando vencer sozinha a tempestade.

serei fogo quando as minhas mãos queimarem o meu coração gelado.

serei fogo quando o mar se abrir, quando tudo se misturar em mim.

so assim,

serei fogo, serei fogo em ti.

terça-feira, 16 de agosto de 2011



odeio estas putas. esta gente.
odeio as tanto.
sim odeio-as.
não as conheço mas sim, odeio e odeio e vou sempre odiar, porque para mim não valem nada.
nada vale nada, tudo chegou ao zero, cada vez ao zero, cada vez menos tudo o que eu sonhei.
eu já não sonho.
eu já não sonho com as putas que entorpeciam os meus passos. que faziam gritar velhos no cio, e que me olhavam de esguelha como se o mundo fosse meu. que a inveja é o que corroi a humanidade.
como as odeio, putas.
putas tanto putas como na minha melancolia. já não é tristeza , é suicidio. já sou angustia porque de outra forma cansa mais, desgasta mais e mata mais.
putas.
sou tão puta quanto elas , putas , empacotadas e enrrafadas, enlatadas e rotuladas numa qualquer prateleira, numa qualquer merda assim.

sábado, 30 de julho de 2011

são heróis e mártires porque nunca erram. nunca erram e nunca erram comigo, porque eu , sim eu, erro mais e mais e nunca acerto. porque eles e elas não têm telhados de vidro, e porque os meus pés e braços estão em chagas e os deles, bem os deles, permanecem imaculados.
e porque eles dão sempre a volta a história, e fazem e refazem tudo como querem, e porque a vontade deles é mais forte, sim é mais forte que os meus pés, e porque os meus pés acabam sempre em sangue. mas os deles, os deles não, permanecem quase sempre imaculados.
perfeitos, tão perfeitos.
e porque eu sou analfabeta, e sofro de iliteracia, mas eles por contrário , são vastos e percorrem o mundo, e eu sou a culpada dos dissabores, mesmo que por eles causados, porque eu sou má , sou besta, mas eles não, imaculados.
perfeitinhos , tão perfeitinhos.
e porque eu sou deprimida, e porque o meu discurso é incoerente , e porque não uso daquelas palavras sóbrias , e não pauso o meu texto com citações de autores mais ou menos desconhecidos, e porque eu não tenho piada, porque um mundo onde a piada existe, não é imaculado.
e não entendem o meu sofrimento, porque o meu sofrimento não tem razão de ser, porque eles podem ser infiéis, mas eu não, eu não posso errar, eu não posso defender-me.
só posso calar, calar , calar e ouvir com atenção a minha culpa, tão e tão imaculada

quarta-feira, 6 de julho de 2011

se me matas agora, quando já estou podre, é porque a força há muito secou do teu corpo. dantes tinhas tanto vigor, tanta força de vontade, agora já nada sobra da tua máscara de golias.

ah! golias. é tão bom chamar-te gigante , quando sei, bem no fundo, que nada mais és do que torpência abrupta.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

quatro

ser feliz e tão feliz no acto de te perder.

ser feliz e tão feliz na ânsia de te encontrar, de novo, de novo, de novo, de novo.

e de novo, ali estás, de pé, ao lado do teu próprio mar de mágoas, chorando lágrimas incolor ao som do teu paradigma, ao som das tuas palavras, ao som mártir do teu amor sentido, por mim tão sentido.

sentir o teu cheiro de novo, é morrer mais uma vez, é padecer novamente por ti.

leva-me, que a força do meu braço torpe é menor que o sentido das minhas palavras.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

novamente

contei todas as palavras e ainda espero, por tantas outras, expelidas da tua tinta preta, em meu papel de arroz..

novamente

contei todas as palavras e ainda espero, por tantas outras, expelidas da tua tinta preta, em meu papel de arroz..

sábado, 14 de maio de 2011

No fundo

no fundo bem no fundo, sei que nunca mais irei bater ai mesmo, no fundo.

porém à superfície penso curiosamente, no oposto.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

nada nada de novo

sonho ir até ao fim da lua

... onde começa o sol

segunda-feira, 25 de abril de 2011

oitava

.. e como o meu sangue gritava loucura, quando da tua boca tremida sairam palavras doces e frágeis, eloquentes do teu pobre coração iludido...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

comme des enfants

espero pela má fortuna. espero que me apanhe. espero que me prenda e me amarre.

espero que fiques e que não fiques, mas que te vás embora depois para voltares no momento a seguir. espero pela solidão de quando não te vejo e pela alegria de te poder abraçar novamente.

e como eu sei que tudo o que não te dou, tu me dás de volta.

e como eu sei que nada do que eu faço grita amor. mas mesmo assim, insistes em voltar.

e como eu sei que a dureza das minhas palavras corroem a tua boca e os teus sentidos.

e como eu sei que corro mais rápido, e que os teus pensamentos voam a mil, a mil e um quando me vês.

e eu sei de tudo o que vejo. e eu sei de tudo o que não vejo. porque eu estou em todo o lado. e ainda assim continuo em mim.

e só em mim.

e brinco e jogo com as palavras e nunca quero dizer o que disse ou o que deixei por soltar, por entre verbos amorfes que te preenchem devagar.

e voam gargalhadas entre piadas de mau gosto, que acabo por inventar. e és feliz e sou feliz por momentos nesse jogo mórbido e putrefacto.

e tu sabes, e eu sei, e toda a gente sabe que te roubo a cada minuto que passa, mais um bocado de ti e o prendo ao meu corpo, e o prendo à minha aura negra e condensada.

e porém, é tão engraçado como apesar de tudo, continuas aqui.

é tão engraçado como isso me faz tão..

.. feliz.



"Il m'aime encore, et toi tu m'aime un peu plus fort
Mais il m'aime encore, et moi je t'aime un peu plus fort"

terça-feira, 19 de abril de 2011

d. pedro primeiro de portugal

lembro-me claramente de uma vaga terça feira, em que perdida acordei já com o peso de mil narcóticos na cabeça.

lembro-me de sentada pensar na solidão que havia provado.

em ti e em mim.

e lembro-me também como sozinha apareces-te perdida de olhares de um outro sitio qualquer, e como o sol dourava levemente os teus cabelos plenos de um qualquer tipo de veneno.

e como o frio no teu olhar se tornou ameaçador quando entre dentes murmurei : perdoa-me..

domingo, 17 de abril de 2011

"hoje e sempre amen"

Por vezes consigo.

sim, por vezes consigo.

por vezes, bem por vezes, finjo conseguir .

finjo tentar conseguir.

as vezes, invento. e novamente finjo. e acredito.

acredito que consegui.

sorriso. largo sorriso aberto que esvoaça no meu esgar.

as vezes, sinto-me tão bem fingindo felicidade.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

águia de enrolar

são dez e quarenta e cinco.
no cinzeiro dois cigarros.
no coração mil e quinhentas notas de esperança.
e na cabeça três vezes pânico.

da boca dois dedos de conversa
dos dedos setenta palavras que escrevo.
na mão uma caneta.
e em cima da mesa três cadernos pintados a tristeza.




"I feel you in my heart, and I don't even know you
Now we're saying
Bye, bye, bye
Now we're saying bye
Bye, bye
I was nineteen, call me"

quinta-feira, 7 de abril de 2011



óptimo dia para falar demais ...

quarta-feira, 30 de março de 2011

queimando claramente os pés com lava

ambas as correntes acabaram por seguir o padrão normal da água.

enquanto que eu, ainda mais queimei o corpo na maré vaza, onde jaz suterrado todo o amor depositado em vós.

domingo, 27 de março de 2011

forever in dept with your priceless advice

a senhora azul tinha tamanha esperança em si, tamanha esperança nos outros e tammanha esperança em ti, senhora atroz.

a senhora azul deixou cair o rio, deixou cair o seu maço de tabaco e perdeu para sempre o fumo da tua amizade, senhora atroz.

a senhora azul não quer mais ouvir a tua voz, a senhora azul já não sente mais saudade e tudo o que sentia nada mais é, do que vazio, vazio por ti, senhora atroz.

a realidade só demonstrou, senhora atroz, que os conselhos que lhe deste, sobre outras tantas senhoras, que dizias não serem mais do que mera escória, eram sim, talvez, mais até do que tu mesma, senhora atroz.

senhora atroz, a realidade crua das tuas palavras, só disseram mais uma vez, que todos os preconceitos que sobre ti jaziam, estavam certos e certos e mais do que certos.

aposto sem dúvida, que ao leres estas passagens, acreditarás porém , num misto de atrocidade inocente , que estas palavras se dirigem para outro alguém , para outro alguém que não tu, senhora atroz.

a senhora azul cansou-se do teu sorriso, da tua gargalhada e da tua amizade fugaz.

a senhora azul só deseja que sejas feliz, na tua alegria. não tua inocente alegria.

na tua mentirosa felicidade.

sexta-feira, 18 de março de 2011

rapido

o manto que cobre a cidade é tão tenue que sou capaz de ver por entre a neblina, todos os pedaços de sentimentos pelo mundo repelidos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

onze de março e um ponto de exclamação.

acordo e sinto-me imortal
levanto-me e já não sei quem sou.

estou tão vazia de sentimentos estranhos. gostava de por vezes conseguir interagir de uma forma saúdavel. de uma forma mais ou menos saúdavel.

saudável.

sou tão saudavel que compenso a vida com vicios.

fumo para não estar sozinha.

café para o tempo passar a correr.

comprimido para o humor.

comprimido para adormecer.

mais cedo ou mais tarde haverá uma quantidade de vicios torpes em mim, apenas, e só apenas , para conseguir andar, para conseguir respirar, para conseguir viver.

assim não vivo.

ninguém vive.

assim,

ninguém precisa de viver,

apenas de se manter ,

mais ou menos vivo.

sábado, 5 de março de 2011

desequilíbrio

entro por vezes num mundo de contrários, em que o certo é já incerto e o errado mistura-se com os entre meios.
duvido porém da forma incauta, como sem o saber, por lá entrei. provavelmente cheguei até ele por meu próprio pé. pé esse, que a cada passo se tornava mais denso, mais forte, mais confuso.
tudo me parece desfocado. muito mais concreto seria a minha mente se não estivesse já obstruída com tanta dor ou com tanta intrusão.
sinto os furos e as cordas e as correntes que me prendem ao chão. ao meu lado um vortex luminoso que me tenta sugar até ao seu centro, até uma nova e diferente dimensão.
fecho os olhos . abro-os momentos depois. tudo parece diferente. sinto diferença em todas as pequenas coisas, em todos os pequenos pedaços de vida à minha frente.

-não és real.
- sou real.
- não te sinto aqui.
- mas eu estou presente.
- ouço-te e no entanto estás tão distante.
- nunca estive tão próximo.
- não és real.
- mas sou eu quem te guia.

quarta-feira, 2 de março de 2011

a realidade, a realidade.. só me lembro de sentir a realidade bem junto aos meus dedos para a perder , segundos depois.

nunca antes havia pressentido tamanha falta desse sentimento que tento tantas vezes aniquilar. dei por mim a desejar voltar , voltar ao velho presente, mas na minha cabeça só via passado, passado já transformado em vazio.

e que frio eu senti, quando a dor penetrou em meu corpo ...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

o azul morreu há já tanto tempo, que apenas tu te lembras das marcas imaginárias que ele te deixou na alma...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sometimes I forget

that one mistake actually leads to another one

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

sabes, apesar de tudo, eu não te odeio.

e não, não o consigo fazer.

apenas,

morreste atropelada por cinco autocarros plenos de utentes de média idade na minha cabeça.

=)

domingo, 23 de janeiro de 2011

não há palavras que descrevam a dor lacerante dos sentidos ao entender que o mundo não gira todo com a mesma intensidade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

expansão

não me importo de ser lua se a luz que me iluminar for mais intensa que o próprio sol.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

pensamentos

viva os subsídios, os altos vencimentos, abonos, baixas médicas, loucuras, faltas justificadas, subidas prematuras nas carreiras, docentes, discentes, pessoal dependente, lê, respira, lê não respires, sossega, para a rua, lê, sossega, murmura, sensível serás, atroz te tornarás, no próximo, horrível, magoado, intervalo, fuma, fura, respira, cigarro fumado, perpetuado, entrada, sala docente, macabro, salário mal parado, não sabes, não falas, teste, próxima semana, bastilha, frança, marcador no quadro, caderno, caro, lapis aguça, montanhas de trabalhos, telémovel, telémovel, sentes-te rejeitado, de novo, magoado, de novo, massacrado pelos colegas, declaras,não pagas, almoças , não pagas, adeus , não há nada, vida, esforço, a mentira dura pouco, nos desenhos, tua alma, tentas, tentas, falhas, não consegues, inventas, não entendes, nasces de novo, nasces sozinho, vivas os subsídios, os altos rendimentos...

domingo, 16 de janeiro de 2011

os meus sentimentos são todos ambíguos. sinto, sinto e sinto. nada mais que isso. sinto também o pensamento latejante , pulsante , lacerante que pulsa desde os ossos até às veias.
na tristeza sucumbo ao poder que o meu fogo produz. o fogo lento consome quase sempre ( e para sempre ) o núcleo inconstante da minha alma.
já não tenho tempo para nada. não tenho já fome para nada. já não há vontade para nada.
questiono-me. porquê? ouço a resposta, bem ao fundo. quero perguntar de novo. não julgar e saber de facto e em facto a resposta à minha dúvida.
julgo saber no entanto que o meu texto corrido em nada ajuda à minha angústia. sinto-a há já alguns minutos. minto, horas. não, não, talvez já há anos. já tudo me parece demasiado confuso para me precipitar agora em nexos lógicos.

julgo manter esperança numa especie de salvação. num braço amigo. na ajuda suprema da valorização. acredito demasiado no ser humano, acredito demasiado no amor humano.

talvez seja o amor, o poder que me mata.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

não quero mais sonhar.
nem lutar contra o mundo,
e contra mim.

vou desistir em breve, tal e qual um barco a afundar-se.

nao existem mais forças dentro de mim.

nem mais marés.

existe apenas uma revolta interior que mancha de dor o meu presente.

os meus pés estão descalços, o frio mata o meu corpo. sinto frio na alma e esse frio é ainda pior que o frio corporal dos dias de inverno.

sinto um gelo aterrador.

estou bastante conformada já com esta minha categoria inferior de pensar ou de agir. só me resta já desistir de verdade.

escuro. só vejo escuro.

e lágrimas salgadas que constroem a cada minuto o meu fado interior.

domingo, 2 de janeiro de 2011

ilusão

hoje é dia 2. é meio dia. missa na tv. tédio na tv. desgraças com sorrisos na tv. ódio e terror na tv. a minha avó está a ver essa mesma tv, e eu acabei de a desligar na minha mente. quem me dera que se desligasse também na realidade.
sei o que quero para dois mil e onze. quero me sentir viva, ainda mais viva até que a própria vida. quero sorrir e esperar por ainda mais memórias, com aqueles que mais gosto. gostava que todas as pessoas que fazem parte da minha vida, soubessem o quanto eu as admiro e o quanto contribuem para eu me manter ainda viva.

o quanto fazem para me salvar da solidão que ameaça infernalmente todos os meus dias.

hoje é dia 2 e espero conseguir manter-me razoavelmente saúdavel por mais um ano. bem, mentalmente saúdavel por mais um ano.

tenho medo às recaidas, às minhas horriveis recaidas que por vezes me atiram para o fundo do poço. se há algo positivo nisto, é que uma vez no fundo do poço , parece bastante mais fácil a subida, a subida ao mundo real, o mundo ao qual nunca pareci pertencer.

ainda sonho com a felicidade , com a minha felicidade utópica, ainda espero por ela.

"Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. (michael cunningham - as horas)"

um dia sei que vou deixar de sonhar, mas e enquanto essa hora não chega , sonharei o dobro, para compensar tudo o que me falta na realidade.