sexta-feira, 28 de outubro de 2011

são tão novas. ai tão novas
que os pedaços de tecido que carregam sobre o corpo
lhes rodam sobre a pele e se rasgam aos poucos.
são tão novas. ai tão novas
e já carregam olhos escuros de negro cansaço
fazendo vénias discretas ao olhar de quem passa
são tão novas. ai tão novas
e já fornicam pelos cantos matando o cio
a cães aluados que lhes tiram a vida a cada segundo
a cada segundo orgásmico que com elas passam.
vi-a
eu via -a passando de arrasto pela estação dos comboios
reconheci
eu reconhecia-a pela sombra , pela sombra do seu ventre cheio
eu vi
os abortos sucessivos e os passos rompendo cordões umbilicais e vida e mais vida
eu vi
o sorriso sufocado e a esperança
nelas vejo sempre a esperança
a esperança que não há em mim.

reconheci-a mas, os seus olhos não vem mais ninguém.
só a verdade nos seus movimentos vislumbra a cor do dia.
sangra
sangra por entre as pernas
mas ela, não sente, já não sente nada.

a minha alma divide-se assim que vejo de longe o fumo do cinzento da cidade.
o comboio parte para longe
e ela sentada espera a saudade
espera a saudade que já não sabe sentir.

domingo, 16 de outubro de 2011

tudo muito muito verde

às vezes grito sozinha. se grito sozinha no meio do verde, das árvores verdes, do dia verde, sei que apesar de alto gritar, nunca ninguém me há de ouvir. ninguém ouve o silêncio. as pessoas estão distraidas , tão distraidas com os seus próprios ecos que se recusam a ouvir o meu grito.

o meu grito.

é só dor no meu grito.

o meu grito.

é só confusão no meu grito.

aqui, só o verde ouve o latejar das minhas cordas vocais. perco-me nas cores, perco -me na cor, ouço o som do meu grito na tua cor. verde, verde palpitante, vejo o verde em ondas semi circulares. desapareço. transformo-me no som. já não sou eu. agora sou apenas o grito, o grito que trespaça os teus ouvidos. eu sei e entendo. ouves e entendes também. o meu grito é a tua dor também. o meu grito é o teu eco. tentas continuar mas agora é impossivel conter o teu grito também.

gritas. da tua boca já só sai silêncio.

choras. olhas para mim. o silêncio entoa no teu grito. as tuas lágrimas amor, as tuas lágrimas são verdes como o meu abismo.

sábado, 1 de outubro de 2011

marlboro 1.0

a cura está em mim e só em mim. fumo um cigarro e parto no fumo também. a cura está no sopro também. a solidão fortalece e os cigarros continuam imortais mas tu partis-te e a tua onda de vapor não passa mais de mera recordação feliz. a cura está no adeus. a cura está no adeus.

hoje deixo o meu coração para trás.
hoje deixo o teu amor para trás.
hoje deixo o teu fumo para trás.

tudo se repete, até a minha felicidade.