sexta-feira, 28 de outubro de 2011

são tão novas. ai tão novas
que os pedaços de tecido que carregam sobre o corpo
lhes rodam sobre a pele e se rasgam aos poucos.
são tão novas. ai tão novas
e já carregam olhos escuros de negro cansaço
fazendo vénias discretas ao olhar de quem passa
são tão novas. ai tão novas
e já fornicam pelos cantos matando o cio
a cães aluados que lhes tiram a vida a cada segundo
a cada segundo orgásmico que com elas passam.
vi-a
eu via -a passando de arrasto pela estação dos comboios
reconheci
eu reconhecia-a pela sombra , pela sombra do seu ventre cheio
eu vi
os abortos sucessivos e os passos rompendo cordões umbilicais e vida e mais vida
eu vi
o sorriso sufocado e a esperança
nelas vejo sempre a esperança
a esperança que não há em mim.

reconheci-a mas, os seus olhos não vem mais ninguém.
só a verdade nos seus movimentos vislumbra a cor do dia.
sangra
sangra por entre as pernas
mas ela, não sente, já não sente nada.

a minha alma divide-se assim que vejo de longe o fumo do cinzento da cidade.
o comboio parte para longe
e ela sentada espera a saudade
espera a saudade que já não sabe sentir.

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